sexta-feira, 11 de maio de 2012

Escre(vi)ver


Há muito, parei de escrever. Parei de tentar dicionarizar uma respiração longa, um bambear de pernas sem sentido. Parei de colocar em letras o que tinha dentro, diluído em sangue, numa contração de músculos, num cair de água salgada por um olhar cabisbaixo. Parei de tentar eternizar no papel um sentimento que passa, de tentar revelar o negativo e deixar fotografado tudo que rodou por órgãos internos e externos, a cada abraço avulso, a cada digital alheia fixada em mim. Parei de romancear a vida, tão idealizada, tão abobalhada pela humanidade
Estanquei numa inércia de sentidos e simplesmente me deixei levar pelo silêncio, pela falta de palavras. Entretanto, sempre que meus olhos paravam diante de letras postas no lugar correto por algum escritor desconhecido, o palpitar de meu coração falhava, apertava. Eles continuavam vivos e eu, não mais. 

Fazia falta poder voar entre parágrafos, sonhar entre pontuações, viver entre vidas de outrem escorridas no papel. Fazia falta ter tanta liberdade em tão pouco espaço. Escrever é pensar. E pensar é inteligenciar-se. É um receber mútuo, uma troca de dentro para fora sem paradas. Um prender-se em si mesmo, transcorrer por suas próprias veias e depois extrair para o mundo, mesmo que seu mundo seja apenas um objeto branco repleto de marcas suas, cicatrizes suas convertidas num alfabeto pueril.  

Por isso, hoje voo. Liberto-me e me permito voltar a ser, voltar a pensar, pois são frases que respiro. É no parar do diálogo que sinto minha existência crua. Nessa hora, percebo o viver. É nessa hora que ele passa bem diante de mim. 

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Lindo, Cá!
    Já dizia Clarice que o tempo de não escrever é um período de morte.
    Bem-vinda de volta a vida. Um beijo

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    Respostas
    1. E ela estava certíssima! Haha.
      Obrigada, Gabi! Beijos.

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  3. Cat minha princesinha de cabelos dourados, Sim! porque é assim que
    te vejo, (como quando era criança). Tú estás cada dia melhor.

    Um grande beijo da tua tia coruja, porém realista no que diz respeito a "cada dia melhor".

    Maria de Jesus.

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