Vendo-me os olhos e vazo por
dentro. A água fina e ligeira agora escorre pela garganta. Silenciosa, ela
guarda a angústia do não saber e a vontade presa do tentar entender, quando em
nada me encontro e o tudo busco. Eclodem as interrogações como luzes para minha
visão trancada e a torneira de mim segue aberta. Que passos meus passos
acompanham?
A pulsação acelerada implora para
que as pernas agitadas parem, então me deito no deserto que por lei da vida me é.
Da quietude entoam-se os antes murmúrios e me confundem diante do que já, desde
o rudimento, não sei. Tive apenas pressuposições que me levantaram na esteira
cronológica dos meus dias e me empurraram para uma estrada cujo percurso eu
percorro na contramão.
Que sirva-me, o sol, como
sinestesia pura e entre em mim. Que desligue a água que corre e ligue algum calor
motivador capaz de dar voz, pois com essa rouquidão dos gritos da vida só é
possível chegar ao boteco mais próximo e pedir mais uma música surrada enquanto
reclamo do nada, sendo o nada o tudo, e nesse tudo me encontrar, contra vontade.