Engraçado como as palavras travam no amanhecer
da felicidade. À medida em que o sol da alegria levanta na janela da nossa
vida, os parágrafos somem. As letras se jogam das pontes, derretendo no
infinito, enchendo de poesia o nada.
Pouca gente entende. Escritor sempre
tem dessas de inventar tristeza, mesmo onde não há. Exagerar o mundo, converter
formiga em elefante. Lágrimas são textos prontos – não precisam fazer coisa
alguma além de cair. E nesse cair já existe o tudo.
O maior alvoroço do mundo cabe no ecoar
de um sorriso. E então cala. O seu corpo ri e sua boca paralisa. Alegria é
sempre sentimento, nunca palavra. Tristeza que diz. Tristeza que tem mãos
cansadas. Por isso, aqui falo somente da alma de quem escreve, pois é
necessitada do vazio, mesmo inventado, para fazer existir. É preciso de
silêncio para poder gritar no papel.
No meu encontrar da felicidade,
desisto. Estou perdida na diluição de letras enquanto, eufórica, minha alma
grita por pieguice barata. Agora, sou só líquido cru com sentimento derretido.
Assim, findo no silêncio. Felicidade líquida só é bom pra quem toma, e no
momento o meu riso me impede de escrever.