Hoje, só hoje, entendo os dizeres dos distantes. Compreendo
o montante de palavras que ouvi, mas não escutei. O tal do “tu ainda vais
sentir falta”. “Falta de quê? De brigas? Só nos teus sonhos!”. Não acreditei,
nem mesmo pensei. Não existia a possibilidade de pelo menos cogitar sobre a
saudade, pois esta não existe sem distância – não propriamente a física, mas
qualquer distância, mesmo a psicológica. Tu estavas presente demais, furando
todos os meus espaços e compartilhando comigo qualquer resquício de ar. Não
pude perceber. Não conhecia a vida sem esse repartimento do respirar.
Hoje, só hoje, sinto tua ausência. Entre os muitos
quilômetros que nos separam, sinto falta do teu chegar ao fim da tarde e do teu
dedilhar alto na madeira, avisando tua entrada, enquanto teu olhar fixo me
encontrava e calava – não dizia nada, mas, ao mesmo tempo, dizia tudo. Sinto
falta do teu parar no pé da minha porta, analisando sei lá o quê, mas sabia. Sinto
falta do almoço barulhento com conversas sem sentido entre nós. Sinto, até
mesmo, falta dos dias em que tu chegavas meio sem jeito me pedindo para pintar
teu rosto, pois não conseguias, de jeito algum, entender como eu fazia tão bem
aquilo, segundo teus gostos.
Hoje, só hoje, posso ver claramente o espaço vago que é teu,
somente teu, e está vazio, aqui perto de mim, apesar de estar tão cheio
psicologicamente, pois tu nunca me deixaste sozinha. Estiveste sempre presente,
ainda que ausente. Ouvir tua voz nunca me foi tão necessário. Se for apenas
isso que posso ter por agora, que seja! E que tua voz me seja suficiente no dia
a dia, que ela me abrace e me acompanhe no lugar do teu abraço que me foge. Que
nossos diálogos diários se convertam em calor teu, em companhia física tua. E
assim será.
Agora, só agora, encontro-me entre muitas lágrimas
recordando muitos momentos vividos contigo. Não foi um tempo, muito tempo, uma
vida... Foi apenas a minha vida toda, claro. Tu és tão parte de mim quanto eu
mesma. Como
te disse uma vez, “Filii canunt paternas
cantiones”. Fruto de ti, canto apenas aquilo que me ensinaste. Não sou além do
que o que tu me fizeste, afora algumas adaptações de um ser independente. Sou um pouco tu, um pouco eu, um pouco nós.
Não sou fruto do amor entre um homem e uma mulher, mas fruto de um amor entre duas
mulheres – nós duas.
Então termino aqui, convertendo
saudade em caracteres, transformando amor numa simples carta on-line, que é me
possível agora. E sobre a vida, que me impede de te encontrar e desejar o
melhor dia das mães de todos, sou agradecida. Agradeço a ela, por me ter
presenteado a que mais me faz feliz. Eu não te trocaria por nada neste mundo!
Tu és a melhor coisa que possuo. Obrigada por ter me dado existência, pois
graças a ela te tenho, te vivo. Tu és tudo, simplesmente tudo. Há tanto amor
aqui, em mim, que não estou mais me cabendo. É tudo teu.
Que lindo!!!
ResponderExcluirAmei o texto, as palavras combinaram fazendo tudo ficar lindo.
ResponderExcluirMe encontrei em partes diferentes em diferentes situações.
Não tem amor mais bonito que amor de mãe, não tem.
Parabéns pelo blog, vou ser leitora assídua. :)
Catarina, sei o que nos torna igual e tenho certeza disso. Não somos chegadas ao comum, a clichês, a mesmice. Não somos muito ligadas a datas e nem chegadas a declarações ( acho até que é coisa de virginiano). Sinceramente, quando me emociono com algo é porque realmente fui tocada. Por isso quero que saiba que nunca, mas nunca mesmo, tinha visto, sei lá, lido, ouvido algo tão lindo, emocionante, perfeito!!!Obrigada! Fiquei emocionada. Lindo mesmo!
ResponderExcluirJosélia Fonseca