sábado, 16 de junho de 2012

Inexistindo-me no novo


Encontrei-me numa busca entre becos escuros capazes de esconder um corpo: apenas um corpo. Minh ’alma desvencilhou-se do material, voou em direção ao nada. Extraviei-me no meio da corrida enquanto me impedia de mover os lábios para soltar o que queria. Tanto calei que me faltou o ar para ir atrás do perdido. Verdade fugiu. Não me era mais.

Quis converter-me em novidade para percorrer novas trilhas. Não sabia que só consegue caminhar quem é. E eu já não era. No momento em que quis mudar, fugi de mim, escorri pelos meus próprios dedos, derretendo na areia de gente pretérita.

Pelos muitos grãos no solo, busquei um velho sorriso que coubesse no espaço de meus lábios. Quis encontrar qualquer coisa que movesse meu corpo petrificado; qualquer pedaço de vida. Busquei, principalmente, as palavras jogadas fora para ver se agora teria coragem de discursá-las. Elas eram as únicas com o poder de me libertar.

Encontrei, no canto de um caminho escondido, uma carta surrada com frases antigas nunca ditas. Escritas no meio de muitos borrões, sussurrei enquanto entrava em mim, existindo novamente, findando-me num viver que havia escapado. Ouvindo-me, pude me sentir humana de novo e pude finalmente dizer: eu sou.

7 comentários:

  1. Simplesmente maravilhoso!

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  2. Você escreve num estilo abstrato, pontificado de sutilezas, algo próximo de Clarice Lispector, para quem a palavra era ponte e ao mesmo tempo vácuo na sua tentativa de se comunicar com o mundo ao redor. Um feixe de significados que pode levar a vários lugares, ou a apenas ou um, e até mesmo a nenhum. Como escritora, você está a caminho do nirvana.

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