Jogo as lembranças no balanço da
praça na esquina com a esperança de que lá no alto elas peguem impulso e voem.
Por um momento cruzo os dedos e torço para que o vento assopre-as para o espaço
que é imêmore, onde não há gravidade que traga de volta.
Sempre me quis aqui, no chão,
onde pudesse alcançar a realidade, ainda que por vezes reclamasse da falta de
asas e discorresse insistentemente sobre o quanto desejava voar. Era mentira.
Isso requer uma cabeça vazia demais, que não pese e não puxe pra baixo quando
você alça voo.
A minha esteve sempre cheia.
Sempre tive arquivados espaços próprios para cada pensamento, cada eu, cada
você, cada eles, cada nós. E mais tantos outros que nem cabem em pronomes. Ou
cabem, mas preferi deixar na lixeira, desativados para mim. Emaranhado de letras
desnecessárias.
E lá se instalaram uns alguéns,
nunca ditos, presos nos segredos pelos meus dentes travados. Números, imagens,
verbos. Tudo isso para me ver outra vez com os braços cansados de tanto
empurrar esse balanço que vem e vai e nunca solta no ar o lixo que faz pesar
minha mente.
Gravidade, me deixa esvaziar?
Que belo texto. Você dança muito bem com as palavras. Parabéns!!!
ResponderExcluirMuito obrigada, Marcio!
ExcluirAbraços!
Parabéns pelo texto, lindo!
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